quarta-feira, 30 de setembro de 2015

"O REINADO DA BESTA"


PERGUNTA: Gostaríamos que nos désseis melhores elementos para comprovarmos logicamente que se trata do instinto desregrado. Podeis fazê-lo?



RAMATÍS:  É um tanto estranhável a vossa pergunta, de vez que os vossos espíritos já se condicionaram de tal modo ao vocábulo "besta", como identificador do instinto animal, que considerais as mais baixas paixões e taras hereditárias como sendo consequentes da bestialidade humana. A "besta humana" tem sido o qualificativo máximo que aplicais aos autores de crimes monstruosos ou aos que demonstram perversidade sem propósitos justificáveis! Assim que o homem sentiu os primeiros bruxuleios da angelitude, que demarcou as fronteiras entre o animal e o espírito, escolheu a palavra "besta" para sinónimo de brutalidade. O profeta utilizasse ainda de outros vocábulos na sua revelação, empregando os de "dragão" ou de "serpente" como representativos das ações bestiais que se praticam no vosso mundo. A serpente — alusão ao espírito satanizado — quando no alegórico paraíso seduz Eva e a faz pecar, é o símbolo da sensualidade e dos indomáveis desejos do instinto inferior. Um dos importantes quadros alegóricos no hagiológio católico é o de São Jorge vencendo o dragão, ou seja a alma destemida e inspirada pelas energias superiores, a enfrentar o dragão do instinto inferior, que lhe vomita o fogo do desejo, e a lava da luxúria.
Entretanto, o símbolo mais perfeito, através do qual se possa identificar o instinto humano animalizado, com o seu cortejo de paixões sensuais e desejos imperiosos da carne, é o sangue. Por iso, João Evangelista emprega várias vezes figuras simbólicas em que predomina a cor sanguínea, sempre que alude diretamente ao instinto humano, que se caldeia sempre através da linfa da vida física, que é o sangue. Diz João: (Cap. XII — 3) "Eis aqui um dragão vermelho" ou, então, (cap. XVII — 3); "E vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor escarlate". Ainda no capítulo XIV — 20, em que a alusão parece um tanto confusa, refere-se também ao instinto inferior: "E o lagar foi pisado fora da cidade, e o sangue que saiu do lagar subiu até chegar aos freios dos cavalos, por espaço de mil e seiscentos estádios". O apóstolo insiste no simbolismo do dragão vermelho ou da besta cor de escarlate, pondo em destaque essas duas figuras mais alegóricas do instinto humano. Sabeis que esses animais revelam a ferocidade, a ostensividade e o poderio do instinto, quando tomam conta da alma, e que só são vencidos por meio de esforço gigantesco, gerado por uma férrea vontade.
O vermelho, ou escarlate, corresponde à mesma cor psicológica com que no vosso mundo identificais o predomínio da violência animal. E João, no seu simbolismo sugestivo, diz que "o sangue que saiu do lagar subiu até chegar aos freios dos cavalos". Essa figura é facilmente compreensível pelos ocultistas. Os magos antigos, quando ensinavam aos seus discípulos as relações do espírito com a matéria, empregavam o símbolo corriqueiro de uma viatura puxada por um cavalo e sob a direção de um cocheiro. O cocheiro representava o espírito, a inteligência, o princípio diretor; a viatura, o corpo — o princípio movimentado — e o cavalo a força intermediária, o princípio motor, ou seja o conjunto que hoje o espiritismo denomina de "perispírito". O cavalo, por ter de puxar a viatura e ser mais forte que o cocheiro, precisa de ser controlado por meio das rédeas, que lhe tolhem o desejo de disparar; a princípio, exige contínua atenção para com a sua indocilidade mas, quando já completamente domesticado, dispensa excessivos cuidados nesse sentido.
O cavalo desembestado faz tombar a sua viatura com os choques desordenados, enquanto que o animal dócil é garantia de longa vida para o seu veículo! O perispirito humano, como princípio motor, pode ser comparado, também, a um cavalo pleno de energias, que fica atrelado entre o princípio diretor do espírito e o princípio a ser movimentado nas ações individuais. É um molde preexistente ao corpo carnal e sobrevivente à desencarnação física; é a sede das forças combinadas do mundo material e do mundo astral. Nesse invólucro etéreo-astral casam-se as energias que ascendem do mundo inferior animal e as que descem do mundo angélico superior; é a fronteira exata do encontro dessas duas expressões energéticas, que ali se digladiam, em violenta efervescência e luta heróica para o domínio exclusivo! O ser humano assemelha-se, então, a uma coluna de mercúrio, pois que fica também colocado entre dois climas adversos, qlue se defrontam, para a glória do espírito ou para a vitória das paixões inferiores.
O perispírito (ou o cavalo alegórico dos magos antigos), quando negligenciado o seu comando por parte do espírito, indisciplina-se ao contacto com as forças selvagens alimentadas pelo mundo inferior, e então o "sangue" sobe até chegar aos freios do animal! Portanto, aquele que perde o domínio psíquico e se deixa vencer pelas paixões bestiais, da cólera, da luxúria ou da devassidão, está implicitamente incluído na afirmação apocalíptica de que o sangue lhe subiu até chegar aos freios do cavalo!
O reinado da Besta significa também a agressividade do instinto inferior bravio que, no fim dos tempos, chegará a "tomar o freio" — como dizeis quando o cocheiro ou o cavaleiro não pode dominar o animal — subvertendo, portanto, o comando do espírito e pondo em perigo a sua integridade psíquica às vésperas da grande seleção entre o "joio" e o "trigo".

Do livro: “MENSAGENS DO ASTRAL” RAMATÍS/ HERCÍLIO MAES – EDITORA DO CONHECIMENTO.

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